Oxum sempre foi uma moça muito curiosa e interessada em aprender de tudo. Como sempre foi manhosa, além de ser muito mimada, conseguia tudo de seu pai, Oxalá.

Sempre que Oxalá queria saber de algo consultava Ifá, o porta-voz de Orunmilá, para que ele visse o destino a ser seguido. Ifá, por sua vez, sempre dizia à Oxalá:
– Pergunte a Exu, pois ele tem o poder de ver os búzios!
E este acontecimento se repetia a cada vez que Oxalá precisava saber de algo. O que intrigou Oxum, que pediu ao pai para aprender a ver o destino. E Oxalá disse à filha:
– Oxum, esse poder pertence a Ifá, que proporcionou a Exu o conhecimento de ler e interpretar os búzios. Não funciona como você quer!
Curiosa Oxum procurou uma saída para esse embate. Sabia que o segredo dos búzios estava com Exu e procurou para que ele o ensinasse.
– Ensina-me, Exu! Eu também quero saber como se vê o destino.
Exu respondeu:
– Não! O segredo é meu, e me foi dado por Ifá. Isso eu não ensino e não tem quem me obrigue!

Exu estava inflexível. Oxum sabia que não conseguiria nada com ele desse jeito.

Partiu, então, para a floresta, onde viviam as feiticeiras Iyami Oxorongá. Cuidadosa, foi se aproximando pouco a pouco do âmago da floresta. Afinal, sua curiosidade e a decisão de desbancar Exu eram mais fortes que o medo que sentia.
Em dado momento deparou-se com as Iyami, em cima das árvores. Entre risos e gritos alucinantes, perguntaram À jovem Oxum:
– O que você quer aqui menina?
– Gostaria de aprender a magia! Disse Oxum temerosa.
– E por que quer aprender a magia?
– Quero enganar Exu e descobrir o segredo dos búzios!
As Iyami, há muito tempo querendo pegar Exu pelo pé resolveram investir na jovem Oxum, ensinando-lhe todo o tipo de magia, mas advertiram que sempre que Oxum usasse o feitiço, teria que oferenda-las. Oxum concordou e partiu.

Em seu reino, Oxalá se preocupava com a demora da filha que ao chegar foi diretamente ao encontro de Exu. Ao encontrar com ele, Oxum insistiu mais uma vez:
– Ensina-me a ver os búzios, Exu?
– Eu já disse que não!


Oxum, então, com a mão cheia de um pó brilhante, mandou que Exu adivinhasse o que tinha escondido entre os dedos. Exu chegou perto e fixou seu olhar curioso..

Oxum num movimento rápido abriu a mão e soprou o pó no rosto de Exu, deixando ele cego parcialmente.
-O que você fez! Não enxergo nada, onde estão meus búzios? Gritava Exu.
Oxum, fingindo preocupação e interesse em ajudar, perguntou a Exu:
– Eu posso te ajudar, são quantos búzios?
– São 16 búzios. Procure-os para mim, eles estavam aí!
– Tem certeza que são 16? Por que seriam 16?
– Claro que tenho certeza. São 16 os Odus e cada um deles fala 16 vezes, em um total de 256.
– Ah! Sei… Olha Exu, achei um! Ele é grande…
– É Okanran! Ai! Ai! Não enxergo nada!
– Olha! Achei outro menorzinho…
– É Eji-okô! Me dê aqui deixa eu tentar ver!
– Ih Exu! Achei um compridinho…
– É Etá-Ogundá, passa para cá….

E assim foi, até chegar ao último Odu. Inteligente, Oxum foi gravando todo segredo do jogo e voltou ao seu reino mais feliz do que nunca. Deixou Exu com os olhos ardidos com sua cegueira repentina melhorando e muito desconfiados de que fora enganado.
– Acho que essa menina me passou para trás!
No reino de Oxalá, Oxum disse ao seu pai que procurou pelas Iyami e que com elas aprendeu a arte da magia e que conseguiu dobrar Exu.

Ifá, o Senhor da adivinhação, admirado pela coragem e inteligência de Oxum, resolveu dar o poder do jogo e advertiu Exu que, Oxum iria reger em conjunto o portal de comunicação.


Oxalá quis saber ao certo o porquê de tudo aquilo e pediu explicações à filha.Meiga, Oxum respondeu ao pai:
– Fiz tudo isso por amor ao Senhor, meu pai. Apenas por amor!

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